O Sol despontava no céu do Oriente Médio, no momento em que Samir, um soldado árabe, regressava ao lar. Seus pais o abraçaram sem, no entanto, receberem o carinho do filho, como de costume. A atitude fria de Samir, ao invés de magoá-los, deixou-os preocupados.
Seguido pelos pais, ele entrou no quarto e jogou a mochila no chão. Sua mãe o interpelou:
- Está doente, Samir? Nunca o vi assim, tão calado e tão triste. Vou preparar seu banho. Depois de comer, você descansa.
O pai de Samir, sem conter a curiosidade, perguntou:
- Você está de licença, filho?
Com um brilho estranho nos olhos, Samir fitou o pai e respondeu friamente:
- Desertei, pai.
Levando a mão no peito, o velho árabe vacilou por alguns segundos. Em seguida, aproximou-se do jovem e quase sem voz falou:
- Você disse que desertou, Samir?
- Foi o que eu disse, meu pai. Nunca mais voltarei a lutar.
- Não acredito! Não acredito! Meu filho não pode ser um covarde!
Desesperado, o velho Nagib clamava por Alá, com as mãos levantadas. Samir sentou-se na cama, baixou a cabeça, cruzou as mãos na nuca e permaneceu em silêncio. Sua mãe entrou no quarto e se assustou.
- Por Alá, o que está acontecendo aqui, Nagib?
- Nosso filho é um desertor, Azziza! Lançou a desonra sobre nossa família! Como vou encarar nossos compatriotas? Seremos desprezados por causa deste filho traidor!
- Calma Nagib! - falou chorando - Deixe-o banhar-se primeiro, comer e dormir. Depois de descansado, ele nos dirá o que o fez desertar. Vá Samir, vá se cuidar. A comida já está quase pronta.
Samir levantou-se e, sem dizer nada, saiu do quarto acompanhado pela mãe. Banhou-se e, em silêncio, comeu pão com pasta de beringela. Tomou café e foi para o quarto, sem responder as perguntas que o pai lhe fazia. Enquanto Samir dormia, seu pai caminhava de cá
pra lá com as mãos nas costas, esperando-o acordar.
Jovem
de vinte e cinco anos, Samir dedicou-se a guerrilha ainda adolescente.
Aprendera a odiar os judeus desde
pequenino, quando assistiu a casa dos avós vir abaixo por bombardeios. Passou a
infância escondendo-se em buracos, para fugir dos ataques dos soldados
israelitas. Viu muitos amigos serem arrastados de suas casas e fuzilados
misteriosamente. Assim, ele cresceu num ambiente de ódio e clamor de
vingança. Terminou os estudos aos vinte e
um anos e logo alistou-se numa facção.
À principio, praticava atos criminosos, com escrúpulo. Depois de algum tempo, seu coração endurecera ao ponto de não sentir piedade nem mesmo de crianças. Tornou-se um dos mais solicitados para missões perigosas. Agia com astúcia, misturando–se aos inimigos. Sempre conseguia cumprir suas
tarefas sangrentas, sem piedade alguma das vítimas. À sua concepção era:
olho por olho, dente por dente. Estava apenas se vingando.
Nagib, cansado de esperar o filho acordar, irrompeu no quarto. Samir dormia o sono dos justos. Sacudindo-o com violência, o pai ordenava-lhe:
- Acorda, Samir. Acorda! Já dormiu muito. Precisamos conversar!
Pronunciando as palavras "quero meu coração de volta" o jovem acordou assustado. Sua mãe chegou e em tom aborrecido dirigiu-se ao marido:
- Deixe-o em paz, Nagib. Onde você está com a cabeça, homem!
Acordar o menino desse jeito! Vamos sair
daqui. Nosso filho precisa descansar.
- Se
é verdade que ele desertou, não é mais meu filho.
- Esfria à cabeça, antes de falar bobagem e se arrepender depois. Samir sempre fez tudo o que você
mandou. Só não se tornou homem-bomba
porque eu não permiti.
- Seria honroso para mim, ser pai
de um herói.
- Que
heroísmo, Nagib! Matar-se somente para assassinar outras pessoas, não é
heroísmo!
- A
mulher do Nassim ficou orgulhosa quando seu filho se explodiu e matou dezenas de inimigos!
- Mãe que se orgulha da morte trágica do filho não é mãe, é monstro.
- Cala a boca, Azziza! Você nunca falou desse jeito!
- Estou lhe prevenindo, Nagib! Não tente obrigar Samir à morrer para
salvar sua honra. Defenderei meu filho de você e de todos. Carreguei meu
filho na barriga por nove meses, senti a dor do parto, alimentei-o com meu
leite, chorei com ele, sorri com ele, criei-o com muito amor e muito carinho.
Portanto, meu filho é meu. Não permitirei que o mandem para o sacrifício.
- Azziza,
não seja tola. Soldado que deserta é
condenado a morte.
OS OPOSTOS
Sem conseguir dormir novamente, Samir
indagava a si mesmo: o que o levara à desertar. Sua cabeça doía de tanto pensar. Finalmente, recordou-se. Escolhido para explodir um mercado,
fora reconhecido por alguém que chamou a atenção das outras pessoas. Sem
alternativa, fugiu correndo, mas levou
um tiro nas costas. Embora ferido, distanciou-se o suficiente para
que o perdessem de vista. Exausto e
fraco, sentou-se no chão e desmaiou. Pouco depois, sentiu dois braços
erguê-lo e caminhar com ele alguns minutos, antes de colocá–lo num leito.
Devidamente tratado, reuniu forças e abriu os olhos. A primeira coisa
que viu foi a barba branca de um ancião. "Será um profeta?" pensou.
- Está melhor, meu filho?
- Quem é o senhor?
- Um velho ermitão judeu.
- Judeu?
- Porque o espanto?
- O senhor sabe quem eu sou?
- Claro que sei. Você é um ser
humano que no momento precisa de ajuda.
Sei também que a polícia de Israel o está procurando por atentado terrorista.
Estou certo?
- Sou um palestino, inimigo de Israel. Porque me salvou? Sabe que se eu
voltar à ativa...
- Você é inimigo de si mesmo, não de Israel, meu jovem. Agora, procure descansar. Estou fazendo uma sopa
forte pra você.
- O senhor chamou um médico para tratar de mim?
- Não foi preciso. A bala não
atingiu nenhum órgão vital; você apenas perdeu muito sangue. Alguns dias de repouso e boa
alimentação resolverá o seu caso.
- Sabe, velho: eu fui obrigado a ser o que
sou: um terrorista cruel, sem alma, sem
coração, sem amor, sem nada. Às vezes me pergunto "porque ainda estou vivo?" e respondo a mim mesmo "para continuar à lutar pela independência da Palestina".
- Isso
é horrível, meu filho! Você ainda não se
conscientizou, mas sofre. Porque não
desiste de tudo e passa a viver tranquilo e mais feliz?
- Jamais viverei tranquilo, velho. Se eu desistir do meu trabalho, vou viver de quê? Meu país está arrasado. Não há trabalho para ninguém. Israel arruinou o meu país.
Fechou todas as saídas de fronteiras. Não podemos pescar, navegar ou trabalhar
em outro lugar. Quanto mais ruínas eles causarem, mais terroristas criarão.
- Em suma: um círculo vicioso de
uma guerra infame e inútil.
- Não temos as armas de Israel, mas temos
suicidas que sentem alegria em morrer pela nossa causa.
- Infelizmente,
nenhuma das partes quer paz.
- Não é verdade! A paz virá quando Israel desistir de invadir nosso território. Quando desistir de expulsar os palestinos da
própria pátria. Alá ordenou: olho por
olho dente por dente.
- Não é bem assim. O que está acontecendo, chama-se intolerância. O
criador não comanda guerrilhas nem fomenta brigas territoriais. Ele está acima da pequenez humana. Mas a humanidade insiste em jogar sobre Ele a
culpa dos erros que pratica.
LIÇÃO DE VIDA
A
convivência com o velho judeu fez Samir
humanizar um pouco seu coração. Conheceu a bondade. Aprendeu tudo sobre os profetas e os reis de Israel. Acabou chegando à conclusão de que o
Javé de Israel é o mesmo Alá dos árabes, com a diferença de que, os árabes, de
maioria mulçumana seguiam as leis do Alcorão, livro sagrado dos islâmicos e os
judeus cumpriam a palavra do Torá.
Samir
despediu–se do homem que lhe devolvera
a vida e o velho lhe disse:
- Você e meu neto são vítimas da intolerância dos
homens. Peço-lhe um grande favor: se meu
neto cair nas suas mãos, poupe a sua
vida. Ele é o único ente querido que
me resta. Prometa-me que terá misericórdia do meu neto.
- Eu prometo, mas como irei reconhecê-lo?
- Pergunte o nome de cada soldado que se defrontar com você. Se a resposta for
Nahun Bem Cholem é meu neto.
- Deve haver outros soldados com o mesmo nome.
- Pergunte-lhe o nome do avô ermitão; chamo-me Samuel Salan.
- Devo-lhe minha vida, bom velho. Se depender de mim, seu neto voltará para casa, são
e salvo.
Samir,
prometera com a convicção de que jamais se defrontaria com o jovem israelita. Apresentou-se
ao chefe da facção a qual pertencia. Mostrou-lhe o ferimento quase cicatrizado e se prontificou a voltar à ativa.
O chefe o enviou a um lugar onde soldados israelitas lutavam com guerrilheiros árabes. Numa guerra insana, jovens israelitas e jovens árabes, na idade dos sonhos e das fantasias, mergulhavam-se em banho de sangue e dor, numa luta inglória, sem vencidos e sem vencedores.
O chefe o enviou a um lugar onde soldados israelitas lutavam com guerrilheiros árabes. Numa guerra insana, jovens israelitas e jovens árabes, na idade dos sonhos e das fantasias, mergulhavam-se em banho de sangue e dor, numa luta inglória, sem vencidos e sem vencedores.
DRAMA DE
CONSCIÊNCIA
Samir, de arma apontada para um jovem israelita. Ia atirar, mas, lembrou–se do velho
ermitão. Sem titubear, perguntou:
- Qual é o seu
nome?
O jovem não respondeu. Samir irritado falou:
responda, porque é uma chance que você tem de sobreviver. Assustado, o
soldado respondeu.
- Nahun Bem Cholem.
- O
nome de seu avô, pai de sua mãe.
- Samuel Salan.
- Então, você é realmente o neto do velho ermitão. Vai embora, rapaz,
depressa!
- Não! - gritou um companheiro de
Samir - Você não vai deixar um inimigo
escapar! - apontou o fuzil - Ninguém vai impedir-me de matá-lo!
O
jovem Nahun, estufou o peito numa demonstração de coragem que estava longe de sentir. Com o fuzil
apontado para sua cabeça, compreendeu por um instante que morria, não por Israel, mas por governantes insanos. Samir tentou
impedir o ato extremo do companheiro.
A lembrança daqueles
momentos dramáticos o deixava amargurado. Contorcia-se no leito e
balbuciava "não, companheiro, não faça isso, por Alá". Numa alucinação, viu o
companheiro de farda tombar mortalmente ferido, a seus pés. À aproximação
de outros camaradas, o moribundo acusava-o "Foi Samir quem atirou
em mim! Ele é um traidor!".
Um ataque de misseis dispersaram seus
companheiros que o deixaram para se protegerem. Desnorteado, empreendeu uma fuga sem descanso até chegar
ao deserto e, quase sem respiração, caiu na areia. Fechou os olhos e
dormiu murmurando "Estou perdido, não
vou conseguir provar minha inocência. Serei fuzilado como traidor".
EU
SOU O QUE SOU
O sol estava no poente quando Samir acordou. Sentiu alguém às suas costas.
Surpreendeu-se ao reconhecer o jovem judeu Nahum Cholem.
- Você? Como soube que eu estava aqui?
- Seguindo-o é claro.
- O
que o levou a seguir-me? Pretende entregar-me?
- Longe de mim tal pensamento. Não sou ingrato. Você salvou minha vida.
- É, salvei a sua e condenei a minha.
- Por
isso estou aqui, para ajudá-lo. Eu sei que você não matou aquele soldado. Ele
também sabia, mas quis vingar-se de
você; por isso, o acusou de traidor.
- O
que está dizendo não muda nada, Nahum. Para todos os meus companheiros de
batalha traí minha pátria e matei um dos nossos. Pode ter certeza de que nesse
exato momento os meus superiores já me condenaram a morte.
- Sem
lhe dar nenhuma chance de se defender? Que absurdo!
- Nossas leis são severas: é matar
ou morrer. Poupar um inimigo, nunca.
- Eu
não sou seu inimigo.
- Também não é meu amigo. Você é um soldado israelita, portando faz parte das tropas que invadiram Gasa. Meus
primos e tios foram mortos.
- Eu
sinto muito, mas guerra é guerra. Esqueçamos as divergências e aceite minha
ajuda. Sabe, enquanto você descansava
fui à casa do meu avô. Ele mandou-lhe
estas roupas e também este chapéu. Disfarçado de judeu estará mais seguro. Ele pediu-me que o levasse para nossa
casa. Vista-se e vamos; logo anoitecerá.
- Agradeço, mas não posso
aceitar. Não sou judeu.
- Nós
sabemos desse detalhe. São
simplesmente roupas, não sentimentos. O
que se veste pode-se despir. Sentimento morre com a gente, entendeu?
- Não
insista, Nahun. Vou para casa do jeito
que estou.
- Meu avô vai ficar triste. Ele quer bem a você e teme por sua vida.
- Devo muito ao velho ermitão, mas minha decisão já está tomada.
- Pense nos seus pais, Samir. Não vai ser fácil para eles aceitarem um
filho traidor.
- Mas, eu não sou traidor.
Retirada da internet - Fonte desconhecida |
Samir
levantou-se e por minutos permaneceu de pé e de braços cruzados. Fixou o olhar
no horizonte vermelho do sol poente e disse:
- Por
minha mãe eu faço qualquer coisa.
Virou-se e seus olhos negros fitaram os
olhos claros do jovem judeu. Em seguida, colocou a mão no ombro do jovem e frisou:
- Mas este sacrifício, não faço nem mesmo por ela. Afastou-se depois de emocionado: shalon
Nahun
viu com tristeza que jamais alguém removeria o ódio plantado no coração de Samir. Com voz triste, falou: "Eu só queria ajudá-lo! O
que será de você, agora?". Ouvindo estas palavras, Samir parou
de andar, olhou para trás, sorriu, acenou e continuou a caminhar até se perder no deserto.
A DOR DO
ÓDIO
Amanhecia,
quando Samir apresentou-se ao quartel-general. Após as formalidades de
praxe, seguiu para o gabinete do chefe e ficou esperando por ele. Sentado, com as mãos no rosto, Samir pensava em sua vida de guerrilheiro. Lembrou-se
das centenas de vidas inocentes que ele
ceifara em ações terroristas... do bebê que caíra a seus pés, ensanguentado, cujo olhar parecia lhe perguntar "Porquê? Que foi que eu
lhe fiz?". Lembrou-se do mercado que
ele explodira matando dezenas de pessoas inocentes. E assim, o filme de todas
as suas ações terroristas passavam por sua mente reavivando passagens de todos
os seus crimes. De uma coisa ele tinha certeza: O velho ermitão judeu mudou algo dentro de si quando lhe afirmara "você
é inimigo de si mesmo". Seus pensamentos
foram cortados pela voz do comandante, que entrara na sala exclamando:
- Samir! Alá o protegeu! Pensei que morrera com os outros soldados!
Surpreendido com à atitude do
chefe e com a notícia de que os outros soldados haviam perecido, Samir,
debilitado, perdeu a voz. Em seguida, os
sentidos.
Transportado para a enfermaria,
foi assistido por dois médicos. À noite, assustou os outros internos em
delírios insanos. Os médicos comunicaram o Comandante que Samir teria que afastar-se das ações por um período prolongado, porque ele
não estava em condições psicológica para voltar a ativa.
- Por
Alá, Doutor! Samir é o nosso melhor
soldado - exclamou.
- Sinto muito, Capitão. O senhor terá que lhe dar baixa.
- É lamentável, mas se é bom para
sua saúde, eu concordo.
Dias
depois, recuperado do choque, Samir
levantou–se do leito, dirigiu-se ao armário, pegou um uniforme do exército e o vestiu. Enquanto calçava as botas, uma enfermeira saiu apressadamente em busca do médico. O médico
sorriu e falou:
- Calma
enfermeira. Ele está de alta. Não irá embora antes de falar com o Comandante
para receber o documento de baixa.
Samir,
em transporte público, seguiu o caminho de sua casa. Enquanto viajava, suas idéias iam se aclarando. De repente, se deu conta da sua situação.
- Alá me
proteja. Não estou bem. Minha cabeça está confusa. Por que eu estava na enfermaria do quartel? Eu desertei!
Samir
chegou à sua casa, num estado mental deplorável. Na certeza de que havia desertado do exército. Seu pai,
ignorando o conflito que o afligia, continuava a ofendê-lo, implacavelmente:
- Quando este covarde acordar, irá embora
da minha casa. Aqui não tem lugar para
frouxos.
- Como
pode falar assim do nosso filho, Nagib? É uma injustiça. Pois fique sabendo que se Samir for embora, irei com
ele.
Encolhido
no leito, o jovem ouvira o pai dizer coisas horríveis a seu respeito. Com os olhos marejados de
lágrimas, pegou uma pistola com silenciador. Naquele exato momento, bateram à
porta de sua casa. Era o Capitão de Samir. Agitado, Nagib mandou-o
entrar. Antes, porém, de o Capitão emitir uma palavra, ele começou a falar:
– O
senhor é o Comandante? Veio buscar o meu filho? Eu sabia que isso ia acontecer. Ele desertou. Estou desonrado, envergonhado. Eu o criei
para a guerra. Agora está lá, dormindo sem nenhum remorso. Não vou pedir clemência para ele, porque eu sei que um desertor não merece perdão.
- O
senhor está equivocado. Seu filho é um herói. É também o mais corajoso de todos os meus comandados. Vim até aqui para me informar da
sua saúde. Eu estava ausente quando Samir deixou a enfermaria.
Nagib levou as mãos à cabeça e falou
alto:
- Por favor, Capitão! Isso é verdade? Pensei
que...
- Meu filho está doente, Capitão? - indagou
Azziza - Pergunto, porque ele está muito estranho.
- Samir sofreu um choque emocional que o deixou hospitalizado por alguns
dias. Os médicos foram unânimes em
afirmar que Samir deveria voltar para
casa. Por isso lhe dei baixa. Mas ele
esqueceu de ir ao quartel para receber autorização do seu desligamento. O
documento está aqui - estendeu a mão com o papel.
- Ele não nos disse nada sobre
isso, Capitão. - falou Nagib, pegando o papel.
- Eu não queria ir embora antes
de vê-lo. É possível?
- Claro, Capitão - disse Azziza - venha comigo.
Azziza bateu na porta do quarto e chamou o filho. Sem obter resposta abriu-a
e entrou, seguida por Nagib e o Capitão. Samir não respondeu e jamais voltaria a responder. Seguindo as
lições que seu pai lhe ensinara no
decorrer da sua vida, o jovem árabe preferiu morrer a ser um covarde desertor.
Seu sepultamento foi realizado
com as honras militares de um herói. Azziza, em lágrimas, disse ao marido:
- Você agora está feliz, não é Nagib? Nosso filho não desertou do exército, mas da vida! Você ficou com as honras. Eu fiquei com a dor.
Conto de Araceli Facuri Ramos